Maria Verônica11/10/2025
Vou contar a minha vida,
destino que Deus me deu.
Eu tirei ela da lama
e limpei o nome seu.
Eu a amava com loucura,
e ela desapareceu.
Está vivendo com outro,
que já foi amante seu.
Não tomei amor dos outros,
mas alguém tomou o meu.
Agora vai ser assim,
a vida que vou levar:
não quero namoro firme,
pois não pretendo me casar.
Quem tiver namoro certo
não precisa vigiar,
porque na roça do outro
eu já costumei entrar.
Seja solteira ou casada,
jogou bola, eu vou pegar.
Jesus nos ensinou
que devemos dar perdão.
O que fizeram comigo
fez doer meu coração.
Eu vou fazer caridade
pra ganhar a salvação.
Não importa a raça,
nem também a certidão.
Se jogar bola pra mim,
não deixo cair no chão.
a
Maria Verônica09/10/2025
Boa tarde, meu senhor,
talvez possa me ajudar.
Estou procurando meu rancho,
não consegui encontrar.
Já faz mais de trinta anos
que mudei deste lugar.
Na madeira deixei escrito
que eu tornaria a voltar.
Não sei se ele caiu,
o senhor sabe me explicar?
Em trinta anos, seu moço,
nesse lugar tudo mudou.
Os ranchos perto do rio
uma enchente forte levou.
Muitos ficaram sem nada,
então pra cidade mudou.
Choveu forte muitos meses,
que até a lavoura estragou.
Alguns tentaram de novo,
e plantando continuou.
Mas o pequeno produtor
sempre foi abandonado.
Quando consegue colher,
seu produto é refugado.
Pois os donos de comércio
só querem produto importado.
Aqui não tem mais lavrador,
deixaram a plantação de lado.
Alguns fizeram salão de festa,
que sempre estão alugados.
Seu rancho a água levou,
outros também foram ao chão.
Alguns fizeram casa nova,
outros construíram salão.
O povo aluga pra festa
em qualquer ocasião.
Vem muita gente de fora,
até tocador de sanfona, viola e violão.
Temos festa e alegria
nessa nossa região.
a
Maria Verônica08/10/2025
Eu tenho dormido pouco,
pensando no que vou fazer.
Um salário é muito pouco
pra gente sobreviver.
Tudo está muito caro,
pra vestir e pra comer.
Comprar fiado eu não gosto,
pois eu detesto dever.
Não sobra nem pra remédio,
se a gente adoecer.
A água e também a luz
não param de aumentar.
É muita gente gastando,
e eu sozinho pra pagar.
Papai me aconselhou:
“Pra roça deve mudar.
Até os filhos crescerem,
pra conseguir empregar.
E a minha profissão,
também encontro por lá.”
Pra eu morar com a família,
ele me deu o barracão.
E pra fazer economia,
já tomei a decisão.
Vai ser luz de lamparina
e um pequeno lampião.
Pra não gastar gasolina,
eu já compro um burrão.
Pra esquentar água e cozinhar,
fiz de lenha o meu fogão.
a
Maria Verônica30/09/2025
Deus não precisa de nós,
Ele apenas está pedindo:
tudo de bom que lhes dei
vocês estão destruindo.
Precisam cuidar melhor
para o mundo ficar mais lindo,
também ter educação
quando estiver dirigindo,
para não matar ninguém
que por ali vai seguindo.
O que Deus está pedindo
é pra você sempre ajudar,
fazer muita oração
para a violência acabar.
Se alguém te ofender
até te fazer chorar,
deves dar o teu perdão
quantas vezes precisar.
Se isso acontecer,
o mundo vai melhorar.
Se fizermos nossa parte,
fazendo o que Deus mandou,
os pais ensinam pros filhos,
os netos aprendem com o avô.
Coração que era pedra
em carne se transformou.
Teremos paz e beleza,
e a violência acabou.
Só assim nós cumpriremos
o que Deus tanto esperou.
a
Maria Verônica27/09/2025
Quando Deus me deu a vida
claro, eu nada sabia,
mas quando fui crescendo
aos poucos eu aprendia.
Minha vida era uma estrada
por onde eu seguiria;
nos trechos que tinham asfalto
muitas vezes eu corria,
mas quando era só poeira
parava e depois seguia.
Quando eu era criança
muito, muito apanhei;
diziam que eu era birrenta,
então sofri e chorei.
Criança não sabe nada,
quando cresci eu pensei:
se meu natural é difícil,
de algum parente eu herdei.
Estou tentando mudar,
mas até hoje não mudei.
Na minha adolescência
um namorado apareceu;
fui seguindo a minha estrada,
caminhando ao lado seu.
Fui feliz até os dezoito,
quando o fim aconteceu;
então parei na estrada,
pensando o destino meu.
Mas seguirei meu caminho,
como Jesus escreveu.
a
Maria Verônica11/09/2025
Porque fez isso comigo,
me deixou e foi embora?
Aconteceu de repente,
não entendo até agora.
Será que você não sabe
que quem ama sofre e chora?
Estou sofrendo sozinha,
penso e torno a pensar:
quem sabe no fim de semana
se arrependa e queira voltar...
E se isso acontecer,
um terço eu vou rezar.
Os cientistas inventaram
remédio que tira a dor.
Eu peço que descubram,
façam isso, por favor:
um remédio que possa curar
os que sofrem por amor.
a
Maria Verônica10/09/2025
Mais uma noite passou
e, de novo, posso ver:
o dia vem clareando
e o sol já vai nascer.
É um presente de Deus,
e eu quero agradecer:
mais um dia de vida
que ganhei para viver.
Se eu tenho uma vida longa,
posso a todos explicar:
no meu tempo de infância,
a criança podia trabalhar.
Também ia para a escola
sem ninguém para vigiar;
idosos se divertiam
sem vigia para acompanhar.
Hoje ouço velhinhos dizendo:
“Estou horrorizado!
Menor de dezoito anos
tem que ser acompanhado.
O trabalho é proibido,
mas pode fazer o errado,
e quem tem mais de sessenta
só pode andar vigiado.”
Depois que fiquei idoso,
já não sou dono de nada,
nem daquilo que comprei,
lutando no cabo da enxada,
enfrentando sol e chuva,
com a roupa toda molhada.
Já não posso andar sozinho:
sou uma cangalha quebrada.
a
Maria Verônica21/08/2025
Você só tem um assunto,
O povo tem comentado:
Se tivesse onde morar,
Já teria me deixado.
Vou lhe falar a verdade,
Eu também estou cansado
De dormir e acordar
Vendo você do meu lado.
Você vê um rosto bonito,
Mas não vê o coração.
Vai logo juntando os panos
Pra dormir no mesmo colchão.
Não sendo amor verdadeiro,
Dura pouco essa união;
As palavras de carinho
Se transformam em palavrão.
Às vezes a gente sonha
Estar vivendo uma paixão;
O que era pra ser romance
Vira grande decepção.
É como chuva passageira
Que acontece no verão:
Vai fugindo um do outro
E vem logo a separação.
a
Maria Verônica27/07/2025
Vivemos tempos em que os olhos costumam mirar sempre para fora — para o que vem de longe, para o que brilha nos grandes palcos. Mas há quem decida acender luzes aqui, bem perto, onde poucos se lembram do que já foi vivido. Em meio a essa realidade, duas pessoas realizaram algo raro e valioso: lançaram um livro que é mais do que páginas encadernadas. É uma obra que resgata acontecimentos, tradições, artes e profissões ainda presentes no imaginário da população.
No livro Entrelaçando Vida e Memórias na Travessia do Tempo, histórias emocionantes de artistas até então anônimos ganham voz. A cada página, sentimos o pulsar do talento bruto, autêntico, que mora logo ali — no nosso bairro, na nossa cidade ou em uma cidade vizinha, às vezes até na casa ao lado. E tudo isso só foi possível graças a vocês, Terezinha Pereira e Idê Ferreira — idealizadoras, incentivadoras, realizadoras. Vocês não apenas contaram histórias. Vocês deram dignidade a vozes silenciadas. Vocês plantaram esperança em muitos corações.
Em uma época em que é fácil aplaudir o que vem de fora e ignorar o que é nosso, vocês escolheram caminhar na contramão, com coragem e generosidade. Como ressaltou o Padre Geraldo Gabriel, em seu programa na Rádio Santa Cruz, vocês mostraram ao povo muitas das coisas bonitas que existem em Pará de Minas. Assim como ele busca palavras difíceis no Evangelho e as explica com clareza para que todos entendam, vocês buscaram o que estava escondido para que o povo pudesse conhecer.
É preciso mais do que talento para organizar um projeto assim — é preciso sensibilidade, empatia e, acima de tudo, amor pela cultura local. Ao valorizarem a mim e a tantos outros artistas da nossa terra, vocês nos ensinaram a olhar com outros olhos para quem está ao nosso lado. Nos lembraram que o brilho de um talento não depende de fama, mas de reconhecimento.
Esta crônica é um abraço em forma de palavras. Um agradecimento sincero, que vem do coração de quem acredita que a arte local merece o palco principal — e que vocês duas ajudaram a construir esse palco com firmeza, afeto, visão e coragem.
Apesar de ter demorado a fazer esse agradecimento — devido a problemas de saúde e à dificuldade para escrever — o faço agora com a ajuda de meus filhos. De todo coração, desejo que esse livro seja apenas o começo de muitos outros projetos que nos lembrem que os maiores tesouros, muitas vezes, estão escondidos na própria terra, bem ao nosso lado, onde convivemos todos os dias.
Obrigada, Terezinha Pereira e Idê Ferreira.
(Minha gratidão por ter sido uma das escolhidas para fazer parte do Livro: "Entrelaçando Vida e Memórias na Travessia do Tempo" e também pela homenagem recebida em 15.05.2025 - no Museu Histórico de Pará de Minas.
a
Maria Verônica26/07/2025
Dia 26 de julho
tenho a minha devoção;
pelos avôs e as avós,
faço a minha oração.
Para aqueles que estão vivos,
peço saúde e proteção;
para aqueles que faleceram,
peço a Deus a salvação.
Meu vovô e minha vovó
trago sempre no coração!
São Joaquim e Santa Ana,
pais da Virgem Maria,
protegem todos os avós,
seja noite ou seja dia,
dando a eles muita saúde
e também sabedoria,
para cuidarem dos netinhos
com grande alegria.
Parabéns, vovôs e vovós —
vivam felizes esse dia!
a
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Conheça a Dona Verônica -
Eu, Maria Verônica de Abreu Santos, nasci no dia 9 de abril de 1938, no povoado de Limas do Pará.…
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