O meu pensamento gira,
já não sei o que fazer.
Você é o meu problema,
difícil de resolver.
Às vezes pego a caneta
pra algumas frases escrever,
lutando com o coração
que não quer te esquecer.

Recebi o seu recado:
que não pretende voltar.
Já nem consigo escrever,
pois me faz te recordar.
Vou escrever qualquer palavra,
vai seu nome no lugar.
Sei que você não tem culpa,
só deixou de me amar.

Quando consigo dormir,
com você estou sonhando.
Seu nome está no meu dedo,
no anel que estou usando.
Te vejo em cada flor
que o vento vai levando.
Comigo ficou saudade,
no rosto o pranto rolando.

Foi muito tempo de amor
pra tudo acabar assim:
você falar, de repente,
que não gosta mais de mim.
Não sei se você tem outro,
ainda não descobri.
Pra viver sem teu amor,
o mundo acabou pra mim.

Quando ainda somos jovens
Achamos que tudo está bem,
Mas a velhice vem chegando
E traz os trabalhos também.
Viver é muito bom
Se não depender de ninguém;
Quando vai ficando idoso,
Então a tristeza vem.

Tem muita gente idosa
Que ainda vai se virando,
Já bastante enfraquecida,
Mas devagar vão trabalhando.
Pra não aumentar o serviço
De quem está cuidando,
Não fazem por pirraça,
Apenas estão ajudando.

Muitos pais e certas mães
Gostam muito de mandar.
Ainda estão com saúde
E os filhos têm que cuidar.
Quando jovens, aproveitaram,
Deixem os filhos aproveitar;
E quando estiverem precisando,
Os filhos irão ajudar.

É claro, tem filhos e filhas
Que não cumprem o seu dever.
Pai e mãe adoecidos,
Eles fingem nem saber.
Só depois que envelhecem
Começam a perceber;
Recordam dos velhos pais,
Mas é tarde pra arrepender.

Tem muitos idosos chatos,
Mas também muitos abandonados,
Sem dinheiro nem pro remédio,
Pelo povo deixados de lado.
A caridade acabou,
E o amor foi sepultado.
Se os filhos não cuidarem,
Sofre o pobre coitado.

Mais um natal sem você
Osmar José de Faria,
sei que você está bem,
junto com Jesus e Maria,
mas está me fazendo falta,
Pra me ajudar nas poesias.
Minha neta, ainda pequena,
a poesia pra você ela lia.
Depois de ouvir com atenção
você sorrindo pedia:
“Guarde essa para mim,
vou gravá-la algum dia.”

No fim do mês de novembro,
em minha casa chegou
um casal muito elegante,
que com carinho explicou:
“Somos amigos do Zé Osmar,
que tão de repente nos deixou.
Viemos pedir à senhora
as músicas que ele gravou.”
Vieram também duas escritoras
que suas canções copiaram.
Disseram que eram amigas
e contigo, um dia, cantaram.

Recordo sua netinha,
que no seu telefone gravou
sempre que ele tocava, dizia:
"Atende o telefone, vovô!"
Admiro Maria, sua esposa,
que tanto te ajudou.
Com muita luta e esforço,
a cada filho educou.
Hoje vivem bem unidos,
o trabalho nunca lhes faltou.
Desejo que eles sejam felizes,
com saúde e a proteção do Senhor.

Meu Natal na minha terra
E da gente pobre que ali morava,
Mesmo com tanta pobreza,
A alegria não faltava.
Quando a Folia de Reis
Lá no terreiro chegava,
O povo cantando junto
Para o presépio caminhava.
Levando a imagem do Menino Deus,
O terço ali se rezava.
Lá na gruta do presépio,
Era onde o Menino Jesus ficava.

Já iam servindo o café
Quando a reza terminava,
Com muitas quitandas gostosas
Para o povo que ali estava.
E depois começava a roda,
E a criançada brincava.
Com a sanfona e o violão,
Todo o povo dançava.
Com o dia já clareando,
É que a festança acabava.
E a família reunida,
Alegre pra casa voltava.

Eu e meus irmãozinhos,
Na frente em casa chegava.
Pois atrás da porta do quarto,
Um chinelo ou sapato ficava,
Na esperança de que Papai Noel
Algum presente deixava.
"Oba! Papai Noel passou!"
Alegres, a gente gritava.
Fosse bala ou ovo de galinha,
Uma coisinha ele sempre deixava.
Com muita emoção e chorando,
Papai e mamãe, a gente abraçava.

Eu já fui um bom roceiro,
plantei arroz e feijão,
cortei lenha com machado
e já cozinhei carvão.
Chegava no fim do mês,
não me sobrava um tostão,
nem pra tomar uma dose
de cachaça com limão,
sempre muito vigiado,
com o olho gordo do patrão.

Então mudei pra cidade
e preparei um galpão.
Estou catando latinha,
também junto papelão.
É um trabalho diferente,
mas com muita perfeição.
Sem ninguém me vigiando,
sou empregado e patrão.
Eu não tenho paciência
pra sofrer humilhação.

Não fiquei rico, seu moço,
mas melhorei de situação.
Morrendo não levo nada,
vou sozinho no caixão.
Sempre ajudo quem precisa,
pra família não falta pão.
Eu ensino o bom caminho,
cumpro minha obrigação.
Pra livrar do tentador,
faço minha oração.

Na minha juventude, eu e meus amigos e amigas nos divertíamos participando das saudáveis brincadeiras de roda. Havia diversos tipos de brincadeiras, com belas cantigas e muita animação. O que eu mais gostava era de cantar e também de ouvir os amigos e amigas cantarem os versinhos. Gostaria de compartilhar com vocês alguns desses versos:

CANTIGAS DE RODA

Boa noite, minha gente!
Acabei de chegar.
Vamos reunir o povo
Para a roda começar!

Oh, que noite tão bonita!
Oh, que céu tão estrelado!
Quem me dera ver agora
O meu lindo namorado.

Eu passei na sua casa,
Pedi água pra beber.
Não era sede, nem era nada,
Era só vontade de te ver.

Não encosta na parede,
Que a parede tem carvão.
Encosta aqui, no meu peito,
Bem do lado do coração.

Chove chuva miudinha,
Lá do lado de onde eu vim,
Pra apagar o meu rastro,
E ninguém saber de mim.

Dizem que amar não dói,
É falta de imaginação.
Arrume um amor que mora longe,
Só pra ver se dói ou não.

Você me chamou de feia,
Mas eu não era feia assim.
Você foi na minha casa
E pegou a feiura em mim.

Ribeirão que corre água,
No fundo corre areia.
Namorar, se fosse crime,
Eu morava na cadeia.

Estou no meu cantinho,
Quero que você fique no seu.
Não tomo o amor dos outros,
Pra ninguém tomar o meu.

Quero que caia chuva boa,
Só pra lavar a estrada.
Meu amor deve chegar,
Amanhã de madrugada.

Estou fazendo novena,
Pra santa da capelinha.
Preciso de um namorado,
Pois estou muito sozinha.

Esses rapazes daqui,
Nenhum deles me convém.
Quando veem moça de fora,
As daqui não são ninguém.

Não quero me casar,
Pois solteira vivo bem.
Não quero servir de briga,
Na família de ninguém.

Às vezes fico pensando,
Na paciência que Deus tem.
Se faz sol, o povo reclama,
Se chove, reclamam também.

Você disse que não me quer,
Também não estou te querendo.
Um amor igual a você,
Ponha na fita e vá vendendo.

Meu amor me deu o fora,
Pensou que eu ia sofrer.
Se um amor vai, outro vem,
Que paixão eu posso ter?

Para rezar um pouquinho,
Vou parar de escrever.
A Deus peço graças e perdão,
E também quero agradecer.

O pai da moça falou:
"Está cedo pra casar.”
Eu não penso em casamento,
Só pedi pra namorar.

Quer que eu vá à sua casa?
Primeiro limpe o caminho.
Tem muita pedra miúda
E muitos galhos com espinho.

Se quiser que eu cante, eu canto,
Mas tem que me pagar primeiro.
Quem canta de graça é o galo
Para as galinhas no terreiro.

Estação da primavera
É a mais linda do ano!
O melhor tempo da vida
É quando se está namorando.

Para esses moços daqui,
Eu quero pedir descanso.
Saibam que meu coração
Está fechado para balanço.

Já depois de muitos anos,
então hoje eu resolvi
voltar lá no povoado
e ver a casa onde vivi.
A estrada era poeira
pra gente chegar ali,
andei de um lado para o outro,
pois o lugar eu perdi.
Só encontrei muro alto
e a bica d'água eu não vi;
nem o telhado da casa
avistar eu consegui.

Já não parece ser roça,
está toda transformada,
parece mesmo cidade,
as casas todas muradas.
Somente não consertaram
aquela velha estrada;
é a mesma onde passavam
tocando grande boiada.
Acho que foi esquecida,
não tem um palmo asfaltada;
quando chove vira lama,
com sol, poeira e mais nada.

Fui ver como a igreja está linda,
e um moço ali descansava.
O grupo escolar, todo fechado,
lugar onde eu trabalhava.
Eu fui também no cruzeiro,
onde muito eu rezava;
quando vinha a chuva forte,
o meu rosário eu pegava.
Pedia pra Santa Cruz,
e ela me ajudava:
trovoada ia acalmando
e a tempestade passava.

Tem quase quarenta anos
que essa terra eu deixei.
Por aqui eu trabalhava
e os meus filhos criei.
Por muitas vezes sorria,
por muitas vezes chorei.
Rezo por quem me ajudou
nas horas que precisei.
Daqui não levo saudade,
minhas riquezas levei:
é o suor do meu trabalho
e os filhos que eu ganhei.

Quando ainda é criança,
acha tudo demorado.
Quer crescer e estudar,
e ter um bom namorado.
Com certo tempo de escola,
reclama que está muito cansado.
Gosta mesmo é do fim de semana,
e também de feriado.

Vem namoro e casamento,
é um castigo dobrado.
No começo é só beleza,
depois é um fogo apagado.
O beijo perde o sabor,
com gosto de café gelado.
Vai fugindo um do outro,
pra não pegar resfriado.

Tem gente que ainda fala
que vive bem sem brigar.
Sou igual a São Tomé,
só vendo pra acreditar.
É um tal de vai e volta,
vai indo até separar.
Seja solteiro ou casado,
o tempo faz enjoar.

Falam que adolescente
só quer fazer coisa errada.
Conheço gente madura
com a cabeça pirada.
Falam que o casamento
é tapera desabada,
e todo dia ficar juntos
é comida requentada.

Tem gente que fala e fala
e fica só repetindo
hoje tudo está mudado,
meu passado foi tão lindo.
Hoje choro de saudade
o que era bom foi sumindo,
passou como um vento forte
e tudo foi destruindo.

Fala porque arrepende
pois nunca ajudou ninguém.
Muitas coisas proibidas
ele praticou também.
Nem mesmo pro velho pai
ele nunca fez o bem.
Agora que está idoso
vê que precisa de alguém.

Só escuta moda antiga
pois gosta de recordar.
Deve ser sua maldade
que o faz arrepender e chorar.
Nada de bom na bagagem
para quando Deus te chamar.
como será do outro lado?
ninguém voltou pra contar.

Mesmo já sendo idoso,
deve fazer boa ação.
O passado não volta nunca
pra que viver na ilusão?
Se tiver um pouco mais,
auxilia teu irmão
pois fazendo caridade
pode ganhar salvação.

Querida, para que fingirmos
que só temos amizade?
Ninguém pode proibir
vamos falar a verdade.
Nós já fomos bons amigos
no tempo da faculdade
mas agora nos amamos
com toda sinceridade.

Para que ficar escondendo
se vivemos muito bem?
Não estamos separando
a união de ninguém.
Não tenho outro compromisso
e nem você também
somos dois apaixonados
direito que a gente tem.

No dia dos namorados
também vamos festejar
para todos os amigos
então vamos revelar
e já avisar aos padrinhos
que podem se preparar
em janeiro do próximo ano
pretendemos nos casar.