A vovó e vovô mudaram para a cidade,
trouxeram a galinhada para não sentir saudade.
O vovô trouxe um pintinho, dá trabalho o dia inteiro,
o coitado está tão mole, não sobe nem no puleiro.

O vovô pediu ajuda, pra ver se o pinto crescia,
a vovó tem ajudado, já fez até simpatia.
colocou perto do fogo todo dia que choveu,
embrulhou com pano quente, mas o pinto não cresceu.

A vovó já deu conselho pra consumir o pintinho,
seu piado está fazendo muita raiva no vizinho.
O vovô ficou nervoso e com a cara zangada
disse que o pinto vai ficar no meio da galinhada.

O pinto fica piando encolhido no cantinho,
procurando agasalho em qualquer um buraquinho.
A vovó já fez de tudo mas de nada adiantou,
resolveu deixar de lado, o pintinho do vovô.

(do livro MINHA TERRA)

Levantei muito cedinho
fui fazer uma canção,
peguei lápis e papel
me veio uma inspiração.
Fiquei parado e pensando
como sofre os meus irmãos,
muitos com a enchente no Sul,
outros com a seca no sertão.

Lá no Sul quanta tristeza
família desabrigada
dormindo na ribanceira
fugindo da enxurrada.
A enchente levou tudo
as escolas e morada,
no Norte morrem de fome
a seca não deixou nada.

No Norte o céu azulado,
no Sul a chuva é perigo,
todos esperam ajuda
em cada um dos amigos.
Vamos repartir o pão
e o agasalho contigo
e pedir ao criador
que não lhe falte o abrigo.

Me encontrei ajoelhado
pedindo a Deus proteção,
querendo um pouco de paz
pro Sul e pro Sertão.
Escrevi essa mensagem
em forma de uma canção,
pode ser uma poesia
ou talvez uma oração.

(do livro MINHA TERRA)

Somente para mim
nosso amor foi verdadeiro.
Só queria aproveitar,
me enrolou o tempo inteiro.
Pra virar minha cabeça,
me levou em feiticeiro,
nos lugares mais granfinos,
acabou com meu dinheiro.

Hoje vivo tão sozinho
sem lugar para viver.
Até mesmo minha casa
você conseguiu vender.
Me deixou todo enrolado
não sei como defender.
Só tomando água benta
talvez possa te esquecer.

Quando sonho com você
faço igual ao povo antigo,
viro logo o travesseiro
pra você sonhar comigo.
Sonhando eu sou feliz
nos seus braços me abrigo.
Pra sonhar não gasto nada
e passo as noites contigo.

Segunda, quarta e sexta-feira
é só trabalhar.
Terça e quinta-feira
eu vou namorar.
Ela reclama
eu tenho dó,
fim de semana
só quero forró.

Eu gosto dela
ela me quer,
o casamento
é quando puder.
Pois no forró
só tenho alegria,
no casamento
é choro todo dia.

Quando ela reclama
faço um carinho,
pois no forró
quero ir sozinho.
Eu vou dançar
enquanto puder,
onde tem sanfona
e tem mulher”.

(do livro MINHA TERRA)

Não quero mais falar contigo,
nem mesmo como amigo.
Com você não vou falar,
já não sei dizer alô
se você telefonar.

Muitas vezes foi embora,
voltou e te perdoei.
Eu me sinto envergonhado,
quando penso em meu passado,
como por você chorei.

Depois de aprontar bastante
me deixando aqui distante,
hoje manda me dizer,
está muito arrependida
numa estrada sem saída
precisa sobreviver.

Debaixo do meu teto não,
falo é de coração
por favor, não vem morar.
Posso até mandar ajuda,
se acaso precisar.
Telefone, água e luz
pra você posso pagar,
mas debaixo do meu teto,
sem você vou descansar.

(do livro MINHA TERRA)

Amigo você reclama
Que já não tem alegria,
Não esquece o passado
Que sua esposa vivia.
E ela fica cobrando
De você noite e dia.
Ela não tem o direito
Porque não te conhecia.
Você também está errado
Ela não te pertencia.

Tudo que passou se foi
Ninguém fica recordando
Pra não sofrer duas vezes
E ficar sempre brigando.
Pensa somente no agora,
Na vida que está levando.
Faz de conta que o passado
São pedras que vão rolando.
Agradeça mais um dia
Que Jesus está te dando.

Perdoa você primeiro
Todo mal que está na mente
E verás que o outro dia
É melhor e diferente.
A vida passa depressa
É igual água corrente.
Quem perdoa, é perdoado,
Vive feliz e contente.
Esqueça todo passado,
Pra ser feliz no presente.

Todos os fins de semana
quando pra casa eu voltava
sempre no mesmo lugar
alguém por mim esperava.
Me pedia uma carona
Como sempre, eu não negava
nunca perguntei quem era,
nem aonde trabalhava.
Aquele rostinho lindo
aos poucos eu fui sentindo
Por ela me apaixonava.

Um dia fui ao encontro
no lugar onde marcou,
fiquei a noite inteirinha
e a madrugada chegou.
Ela não apareceu
nenhum um recado mandou.
À um guarda que estava perto,
perguntei, ele explicou:
aquela linha morena,
uma garota pequena,
ontem daqui se mudou.

Senti a dor mais profunda
e comecei a pensar,
ela vive de carona
fingindo ir trabalhar,
aquele rosto de santa
não vai me fazer chorar.
Eu assim fiz juramento
que não pretendo quebrar,
não quero falso carinho,
viajo sempre sozinho
e carona eu não vou dar.

(do livro MINHA TERRA)

Seu guarda, estou errado
porque avancei sinal.
O senhor cumpre o dever
de um bom policial,
eu estou apaixonado
e não fiz isto por mal.

Por favor libere o carro
porque eu preciso ir,
aquele carro escuro
eu tenho que seguir,
meu amor está lá dentro
está tentando fugir.

Ontem eu briguei com ela
sem direito, sem razão
magoei sem piedade
o seu pobre coração,
agora corro atrás
pra pedir o seu perdão.

Te peço libere o carro
pago a multa com prazer,
se o senhor me ajudar,
eu prometo não correr.
porém aquela mulher
de volta quero trazer.

(do Livro MINHA TERRA)

As noites de lua cheia
muita saudade me traz,
do meu ranchinho querido
que não esqueço jamais.
Pra dar conforto aos alheios,
coisas que o progresso faz,
derrubaram meu ranchinho
herança dos velhos pais.

À tarde no meu ranchinho
os boiadeiros chegavam,
cansados com a viagem
por ali eles pousavam.
Enquanto eles dormiam
sua boiada pastava,
no outro dia, cedinho,
a viagem continuava.

Onde era o ranchinho
da nossa felicidade
construíram uma barragem
pra abastecer a cidade.
Fornecendo muita água,
trazendo eletricidade
e o meu pobre coração
se abasteceu de saudade.

Ao sair da minha terra
eu escrevi um letreiro
adeus ranchinho querido
descanso de boiadeiro.
você serviu de abrigo
pra muitos peões mineiros
seu lugar hoje é famoso
por esse Brasil inteiro.

(do Livro MINHA TERRA)

Já faz mais de 20 anos
que dessa terra saí.
Hoje sentindo saudade
voltei pra viver aqui.
Vi muitas coisas bonitas
quase não reconheci,
até parece ser lenda,
transformaram em fazenda
o rancho onde eu nasci.

O pequenino riacho
em lagoa se transformou,
hoje é centro de turismo
morada de pescador.
Para os serviços braçais
hoje temos trator,
é o auxílio pro roceiro
é o progresso brasileiro,
chegando no interior.

Os famosos boiadeiros
agora estão encostados,
temos grandes caminhões
para o transporte do gado.
Tudo aquilo que colhemos
hoje está sendo exportado,
meu velho carro de boi
o seu tempo já se foi
vai ficar aposentado.

Ficou por recordação
um pouco desse lugar,
o colorido das flores
pois não puderam mudar.
Tem o brilho das estrelas,
a luz bela do luar,
no mais tudo é progresso,
temos dinheiro e sucesso
em nossa zona rural.

(do livro MINHA TERRA)