CONVERSA DO SEU JOAQUIM COM JUAREZ

Maria Verônica06/02/2017

- Bom dia Juarez! Eu vi você só, aqui na esquina, estou também sozinho e vim bater um dedo de prosa. Não sei se sente igual eu aqui na cidade, o dia não passa. De manhã até a noite parece que dura um ano. Com você também é assim Juarez?!
- sim seu Joaquim, a gente que foi nascido e criado na roça, depois de velhos, mudar pra cidade é besteira. Os filhos falam que tem mais recursos, realmente tem! Tem médico mais perto. É só isto que muda na vida da gente. Ah! E fica mais perto do cemitério! O resto é só pra cansar o ouvido da gente, barulho de carro, caminhão, moto, etc.
- Juarez, o falatório do povo em praia, viagem pra todo lado. Cada um quer contar a novidade que viu, até os calangos da praia. E outras coisas que viu no caminho também é lembrado, cruz credo.
- Seu Joaquim, as festanças que fazem hoje em dia, um sábado numa casa, outro na outra casa. Até nos dia de semana tem festa aqui e ali. É cerveja e vinho que movimentam as festas, também churrasco e muitos alimentos enlatados e outras novidades que eles arrumam.
- Isto não é nada Juarez. E os encontros no bar?! Cada dia escolhem um diferente. Até de alimentos crus eles gostam. Se ouvirem nois conversando sobre isto vão falar que é com o dinheiro deles que fazem as festanças.
- É verdade.
- E ainda reclamam que a vida está ruim, muito difícil hoje em dia. Os que vivem em bairro mais pobre, tem restaurante pras crianças alimentar, tem creche pra criar os filhos, porque as mães de hoje põem no mundo, mas quem cria é as creches, pois elas querem é trabalhar pra ganhar seu dinheiro e passear. Pensa bem no meu tempo Juarez e no seu também, as nossas donas trabalhavam na roça, cuidava da casa e criava os filhos. Eu fico pensando se uma dessas madames precisasse comer o arroz, feijão e um molho de mamão verde ou folha de batata, como a gente na roça comia e achava bão quando não faltava. O feijão de corda que plantávamos junto com o milho era uma fartura. Triste era quando o sol muito e fora do tempo, a gente perdia tudo. Então vinha a pobreza, faltando até o alimento. A gente comia angu com couve rasgada, picada de qualquer jeito, quase sem gordura. Não era assim?
- era desse jeito. Pensou se acontecer isto hoje? Vai ser um Deus nos acuda. É separação de casamento na hora. A verdade é que já estão separando por qualquer motivo. Eu tenho até medo de falar mas ainda vai acontecer de casar irmão com irmã. Separa aqui e casa de novo em outra cidade. E como deixou uma cria aqui, deixa outra por lá. E como os jovens de hoje acabam estudando fora, pode acontecer de se conhecerem e ficar gostando um do outro e sem saber que são irmãos.
- Deus nos livre de tanta coisa errada. Vamos caçar jeito de encher o buxo, vem comer na minha casa Juarez. Tenho comida nova, minha filha vem todos os domingos fazer almoço pra mim.
- Obrigado Seu Joaquim, vou fazer um feijão e comer.
- que nada, hoje vai comer comigo. Depois que minha velha morreu a minha filha cuida muito bem de mim. Agora você e sua dona não tiveram filho, ela se foi e você ficou sozinho. Mas pode contar comigo. E vamos lá almoçar.
- está bem Seu Joaquim, prometo não dar muito trabalho pra sua filha. Eu penso, enquanto tiver forças para arrastar os pés, vou morar sozinho. Depois procuro um asilo para terminar meu tempo aqui na terra.
- também penso o mesmo Juarez.
- mas você tem filhos e filhas Seu Joaquim, pode morar com um deles.
- nada disto, não quero dar trabalho para filho e nora, nem para filha e genro. Isto falo com fé, porque não podemos falar: ‘que desta água eu não bebo’, pois as vezes temos que beber lama, espero que não. Somos aposentados para ficar no asilo que passa a receber nossa aposentadoria e a gente ainda ajuda cada mês com um pouco que temos no banco.
- foi uma lei ótima que inventaram, aposentar os velhos. Temos muita coisa ruim, mas tem boas coisas também.
- Entre Juarez, vamos almoçar.