CARTA À AMIGA

Maria Verônica18/01/2012

Olá amiga, como vai? Espero que entre você e os seus, tudo seja paz, saúde e felicidade.
Faz tanto tempo que não nos encontramos para colocarmos nosso passado no presente.. Sabe? Andei por aqueles lados onde moramos, senti saudades do nosso tempo de criança, quando caminhávamos para a escola todos os dias, caminhada longa, mas gostosa. Não tinha ônibus, nem carro e nem cavalo, era mesmo no dedão e sem chinelo, pois a pobreza era muita, não é mesmo?
E o córrego por onde pescávamos com peneira, balaio e até mesmo com panela suja de comida, se lembra? Agora está todo sujo, é só poluição. Aquele poço grande, onde a gente pulava! Está seco.
A escolinha pequena, nem pode imaginar, fizeram um prédio; mesmo assim ninguém quer estudar. Só sei que quando saímos da escola foi triste, ficou a saudade da professora, muito simples, mas um anjo de pessoa.
Depois ficamos moças e já era diferente, íamos à capela, aos terços, bailes ou nas casas das amigas para conversarmos sobre o rapaz mais bonito e coisas assim. Hoje é diferente as garotas e os garotos só falam em “ficar”, sei lá o que é isso. Namoramos muito, até encontramos a pessoa certa para casamento.
Hoje temos filhos, netos e eu já estou querendo um bisneto, está demorando a chegar.
Moro sozinha, tem dia que o portão fica fechado o dia todo, não aparece ninguém. Os filhos são ótimos, mas parecem beija-flor, chegam e saem na mesma hora, é uma vida corrida, ninguém tem tempo. Sabe o que faço para espantar a solidão? Escrevo, e assim vou formando poemas que podem ser lidos ou cantados, num ritmo sertanejo.
Olha, vou parar por aqui. Se fosse escrever tudo que sinto e sei de nós, gastaria muitos cadernos. Muitos e muitos abraços para você amiga, que também deve precisar de ajuda para sair, não é? Até breve.

(Introdução do Livro MINHA TERRA)