Maria Verônica08/01/2014
É costume ouvir pelos bares, esquinas, encontros familiares ou com amigos a mesma conversa: o tempo está passando muito depressa. Parece que ontem mesmo era janeiro e já estamos no final do ano.
Algumas vezes comentam: recebi meu pagamento esta semana, já acabou o dinheiro, não deu para pagar nem metade das dívidas. Agora até chegar mês que vem para acertar o resto ou pagar mais um pouco...
Está vendo? Quem está correndo é você.
Hoje o pai e a mãe trabalham muito para comprar as novidades para os filhos. Se o vizinho tem um joguinho diferente, uma bola maior, qualquer coisa nova, ou melhor, seu filho quer também. Sua situação não é igual a do vizinho, mas você quer fazer o gosto do seu filho, ou melhor, a exigência dele. Compra de qualquer jeito.
No meu tempo de criança, minha mãe mandava fazer qualquer serviço e eu dizia: “Vou fazer amanhã!”, ela respondia: “Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Faça hoje sim!”. Tudo virou ao contrário. O pai fala: “Vou comprar o que você quer amanhã!” e o filho responde: “Não! Eu quero é hoje, Agora!”. O pai mandava e não pedia. Hoje o filho manda e não pede.
Eu não sou contra as crianças. O que mais amo de coração são elas. Só acho que o pai e a mãe não podem se entregar, fazendo tudo que os filhos exigem. Precisa medir a água e o fubá para ver se sai certo o mingau ou angu para depois não correr como loucos para pagar e ficar dizendo que o tempo está passando muito depressa.
Você passa e o sol continua o mesmo, nasce e se esconde. A noite é a mesma. A lua com suas quatro fases: nova, crescente, cheia e minguante. Não preocupam se você está endividado ou tranquilo, não é mesmo?
Quando você ficar velho, com os cabelos brancos, o rosto cheio de rugas, vai ver que o sol, a lua, a noite, continuam a mesma coisa. Você passou!
Outro ditado antigo e muito certo: “Filho criado, trabalho dobrado!”. Eu que o diga! É pior que ficar endividado para comprar as exigências dos filhos pequenos, pois tem sempre uns mais cabeça dura. Não escuta conselho, fala que os pais estão caducando, antiquados, não conhecem o mundo de hoje. Quando caem no abismo ficam pedindo aos santos e ás almas para intercederem por eles, para saírem de uma situação difícil que estão vivendo ou de um vício que caíram.
Eu falo uma verdade! Fiz o que pude, faço o que posso agora. Mas quando eu passar para o outro lado, quero oração e não pedido de ajuda. Não quero que minha alma sofra para ajudar ninguém! Quero paz. Combinado?
a
31/12/2013
Não sei se acontece só comigo ou se outras pessoas sentem o que eu sinto...
Quando chega dezembro, do meio do mês para o fim, na minha imaginação vejo uma ponte grande para atravessar de um ano para o outro. Debaixo da ponte tem um vácuo ou um rio. Vou notando que a ponte fica maior a cada ano. Na realidade não vejo nada, é invisível, somente sinto que está cada ano mais difícil para eu chegar do outro lado.
Estou com as pernas trêmulas, a ponte está balançando, não vejo onde posso segurar... Vou seguindo devagar... É a idade...
Acho que quando vamos ficando mais velhos, sentimos dificuldades e precisamos de ajuda... Mas nem sempre aparece alguém disposto a oferecer a mão a quem precisa. Existem muitos adolescentes e jovens que são capazes de dar gargalhadas quando veem idosos ou indefesos darem um tropeção ou caírem no chão. Não pensam que estão passando pelo mesmo caminho onde os idosos passaram e que um dia podem precisar de ajuda também.
Nos dias de hoje tem muita leitura e quase nada de educação.
No meu tempo de jovem existia pouca leitura, mas muita educação. Muitos idosos e idosas não sabiam nenhuma letra do alfabeto e tinham tanta educação que chamavam os mais jovens de senhor ou senhora. Costumavam oferecer ajuda dizendo: “Se precisar de mim, estou às ordens” e explicava: “ Não sei fazer muita coisa, mas faço de boa vontade para a senhora, está bem?” Se formavam uma roda ou se faziam um baile não tinha separação, os jovens e as pessoas mais velhas brincavam e dançavam juntas.
É pensando estas coisas, cantando versinhos e cantigas de roda que vou atravessando a ponte invisível.
Vejo tanta gente com diploma na mão, formado em tanta leitura e esqueceram dessa coisa tão bonita chamada educação. Andam com o nariz empinado que quase chega na testa. Tem vergonha de dar bom dia, boa tarde ou boa noite. Não dão um sorriso pra ninguém. Todos têm a sua turminha, parece que o mundo é só deles. Até com os pais, fazem falta de educação.
Graças ao bom Deus, estou quase no fim da ponte... Posso ver chegar o ano novo... Mas estou pensando naqueles que nem puderam sentir que existia uma ponte invisível... Parentes, amigos, conhecidos, mesmo quem não é nada meu, sofrendo em um leito de hospital, na sala de cirurgia ou com uma doença triste... Pessoas que perderam alguém que tanto amavam... Para estas, a travessia foi ainda mais difícil.
Peço a sagrada família de Nazaré, aos santos reis magos, guardar as crianças, livrando-as de todo perigo e nos ajudar na travessia da ponte de 2014 para 2015. Muita saúde, paz e EDUCAÇÃO para todos nós. Que a ponte seja menor e que tenha um corrimão para que possamos segurar.
Nosso Deus também é invisível, mas está em cada canto de nossas casas... Onde se encontra uma pessoa ele está presente. Peço a Ele que não deixe ninguém sozinho, mas que a maior parte do tempo passe ao lado dos sofredores ou doentes. O senhor é a visita mais certa e esperada de cada enfermo.
a
Maria Verônica02/11/2012
Papai eu venho em sua última morada,
hoje é seu dia, te ofereço oração,
vou te contar tudo que agora estou vivendo:
hoje sou rico e tenho grande mansão,
mas não esqueço nosso ranchinho modesto
e os seus trabalhos pra minha criação
todos os dias rezo para agradecer
o seu suor e os calos de sua mão.
O meu diploma na parede pendurado
está no quadro ao lado de um retrato seu
é a lembrança que eu guardo de você
papai querido, hoje está junto de Deus.
Faz tanta falta para olhar nossa velhinha
que está cansada com a memória vacilando.
Faz tudo errado parecendo uma criança
e na varanda passa as tardes lhe chamando.
Não se conforma por ter perdido você
e continua como sempre te amando.
Ela mim pede: meu filho chame seu pai
ele está no curral ou no quintal capinando.
Olho pra ela, a tristeza mim maltrata,
é uma dor que pouco a pouco mim consome.
Papai querido em sua homenagem
em meu primeiro filho, coloquei o seu nome.
(do livro MINHA TERRA)
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Conheça a Dona Verônica -
Eu, Maria Verônica de Abreu Santos, nasci no dia 9 de abril de 1938, no povoado de Limas do Pará.…
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