Maria Verônica20/05/2012
Todos os fins de semana
quando pra casa eu voltava
sempre no mesmo lugar
alguém por mim esperava.
Me pedia uma carona
Como sempre, eu não negava
nunca perguntei quem era,
nem aonde trabalhava.
Aquele rostinho lindo
aos poucos eu fui sentindo
Por ela me apaixonava.
Um dia fui ao encontro
no lugar onde marcou,
fiquei a noite inteirinha
e a madrugada chegou.
Ela não apareceu
nenhum um recado mandou.
À um guarda que estava perto,
perguntei, ele explicou:
aquela linha morena,
uma garota pequena,
ontem daqui se mudou.
Senti a dor mais profunda
e comecei a pensar,
ela vive de carona
fingindo ir trabalhar,
aquele rosto de santa
não vai me fazer chorar.
Eu assim fiz juramento
que não pretendo quebrar,
não quero falso carinho,
viajo sempre sozinho
e carona eu não vou dar.
(do livro MINHA TERRA)
a
Maria Verônica18/05/2012
Seu guarda, estou errado
porque avancei sinal.
O senhor cumpre o dever
de um bom policial,
eu estou apaixonado
e não fiz isto por mal.
Por favor libere o carro
porque eu preciso ir,
aquele carro escuro
eu tenho que seguir,
meu amor está lá dentro
está tentando fugir.
Ontem eu briguei com ela
sem direito, sem razão
magoei sem piedade
o seu pobre coração,
agora corro atrás
pra pedir o seu perdão.
Te peço libere o carro
pago a multa com prazer,
se o senhor me ajudar,
eu prometo não correr.
porém aquela mulher
de volta quero trazer.
(do Livro MINHA TERRA)
a
Maria Verônica26/04/2012
As noites de lua cheia
muita saudade me traz,
do meu ranchinho querido
que não esqueço jamais.
Pra dar conforto aos alheios,
coisas que o progresso faz,
derrubaram meu ranchinho
herança dos velhos pais.
À tarde no meu ranchinho
os boiadeiros chegavam,
cansados com a viagem
por ali eles pousavam.
Enquanto eles dormiam
sua boiada pastava,
no outro dia, cedinho,
a viagem continuava.
Onde era o ranchinho
da nossa felicidade
construíram uma barragem
pra abastecer a cidade.
Fornecendo muita água,
trazendo eletricidade
e o meu pobre coração
se abasteceu de saudade.
Ao sair da minha terra
eu escrevi um letreiro
adeus ranchinho querido
descanso de boiadeiro.
você serviu de abrigo
pra muitos peões mineiros
seu lugar hoje é famoso
por esse Brasil inteiro.
(do Livro MINHA TERRA)
a
Maria Verônica12/04/2012
Já faz mais de 20 anos
que dessa terra saí.
Hoje sentindo saudade
voltei pra viver aqui.
Vi muitas coisas bonitas
quase não reconheci,
até parece ser lenda,
transformaram em fazenda
o rancho onde eu nasci.
O pequenino riacho
em lagoa se transformou,
hoje é centro de turismo
morada de pescador.
Para os serviços braçais
hoje temos trator,
é o auxílio pro roceiro
é o progresso brasileiro,
chegando no interior.
Os famosos boiadeiros
agora estão encostados,
temos grandes caminhões
para o transporte do gado.
Tudo aquilo que colhemos
hoje está sendo exportado,
meu velho carro de boi
o seu tempo já se foi
vai ficar aposentado.
Ficou por recordação
um pouco desse lugar,
o colorido das flores
pois não puderam mudar.
Tem o brilho das estrelas,
a luz bela do luar,
no mais tudo é progresso,
temos dinheiro e sucesso
em nossa zona rural.
(do livro MINHA TERRA)
a
Maria Verônica23/03/2012
Pensa primeiro, gente
pensa direito e com carinho,
se quer se casar
ou quer viver sozinho,
pra mais tarde não deixar
a cruz no meio do caminho.
Todos os dias por aí
comentam pra todo lado,
mais um casal se separou
e outro amasiado.
Claro quem sofre mesmo
são os filhos de pais separados.
Pensa direito, gente
pra depois se decidir.
Não deixa o filho jogado
sem canto pra dormir.
Pois sabem que o mau caminho
é mais fácil pra seguir.
A mãe quer viver com outro,
o pai tem outra a seu lado,
o filho daqui pra ali
sempre abandonado.
Quando acordarem já é tarde
tem um filho viciado.
(do livro MINHA TERRA)
a
Maria Verônica05/03/2012
Saudade é dor escondida
Não aparece pra ninguém.
Só quem sente saudade
Sabe de onde ela vem,
E um alguém do passado
Sabe o motivo também.
Dizem que o amor não dói
Pergunta seu Coração,
Que chora noite e dia
Na mais triste solidão.
Ama alguém que mora longe
Para ver se dói ou não.
O amor chega sozinho
Não conversa com ninguém.
Ele chega e se arrancha
No coração de alguém.
De repente vai embora
Fica a saudade, o amor não vem.
Eu aprendi conviver
Com a saudade malvada.
O meu amor foi embora
Eu bem sei que sou culpada.
Só sei que o primeiro amor
Não se esquece por nada.
a
Maria Verônica08/02/2012
Já faz muito tempo que deixei a roça
mas sinto saudades daquele lugar
da velha tapera onde eu nasci
e das águas claras pra gente pescar.
A velha escolinha já foi destruída
construíram prédio pro povo estudar.
Cavalo de pau e bola de pano,
o vovô fazia para a meninada
hoje mudou tudo, a bola é de couro
e toda criança faz cavalgada.
E os velhos trilhos por onde passei
progresso chegou, asfaltou a estrada.
Águas encanadas e eletricidade
também já chegaram na região
do pequeno rio só ficou saudades
transformaram tudo em poluição.
Até animais e a passarada
que alegravam tudo, hoje é extinção.
Sempre vou ali para recordar,
a tristeza aperta vou falar a verdade,
encontro os amigos do tempo de escola
a gente comenta sobre as novidades.
Quando chega a tarde vou me despedir
juntos nós choramos de tantas saudades.
(do livro MINHA TERRA)
a
Maria Verônica18/01/2012
Olá amiga, como vai? Espero que entre você e os seus, tudo seja paz, saúde e felicidade.
Faz tanto tempo que não nos encontramos para colocarmos nosso passado no presente.. Sabe? Andei por aqueles lados onde moramos, senti saudades do nosso tempo de criança, quando caminhávamos para a escola todos os dias, caminhada longa, mas gostosa. Não tinha ônibus, nem carro e nem cavalo, era mesmo no dedão e sem chinelo, pois a pobreza era muita, não é mesmo?
E o córrego por onde pescávamos com peneira, balaio e até mesmo com panela suja de comida, se lembra? Agora está todo sujo, é só poluição. Aquele poço grande, onde a gente pulava! Está seco.
A escolinha pequena, nem pode imaginar, fizeram um prédio; mesmo assim ninguém quer estudar. Só sei que quando saímos da escola foi triste, ficou a saudade da professora, muito simples, mas um anjo de pessoa.
Depois ficamos moças e já era diferente, íamos à capela, aos terços, bailes ou nas casas das amigas para conversarmos sobre o rapaz mais bonito e coisas assim. Hoje é diferente as garotas e os garotos só falam em “ficar”, sei lá o que é isso. Namoramos muito, até encontramos a pessoa certa para casamento.
Hoje temos filhos, netos e eu já estou querendo um bisneto, está demorando a chegar.
Moro sozinha, tem dia que o portão fica fechado o dia todo, não aparece ninguém. Os filhos são ótimos, mas parecem beija-flor, chegam e saem na mesma hora, é uma vida corrida, ninguém tem tempo. Sabe o que faço para espantar a solidão? Escrevo, e assim vou formando poemas que podem ser lidos ou cantados, num ritmo sertanejo.
Olha, vou parar por aqui. Se fosse escrever tudo que sinto e sei de nós, gastaria muitos cadernos. Muitos e muitos abraços para você amiga, que também deve precisar de ajuda para sair, não é? Até breve.
(Introdução do Livro MINHA TERRA)
a
Maria Verônica25/12/2011
Quando chega o fim do ano
comemoramos com amor
25 de dezembro,
nasce o Cristo Salvador.
Porém eu não me esqueço
trago sempre na lembrança,
o meu natal lá na roça
quando eu era criança.
Eu perguntava à mamãe
onde estava o meu presente,
dizem que o papai Noel
traz muitas coisas pra gente.
Então ela respondia
e começava a chorar,
coitado, está tão velhinho
aqui não pôde chegar.
Ainda existem crianças
morando em velhas palhoças,
nos ranchos de carvoeiras
casas mal feitas na roça.
Onde só reina a pobreza
e o natal é diferente
ninguém tem vinho na mesa
criança não ganha presente.
Peço à mãe do salvador
abençoe essas crianças.
Nos ranchos abandonados
leve um pouco de esperança
Ensinando-as a viverem
com o pouquinho que têm
pois Jesus de Nazaré
foi pobrezinho também.
(do Livro MINHA TERRA)
a
Maria Verônica15/07/1998
Amigo da cidade
venho convidar-te
pra passar uns dias
na roça comigo,
conhecer os campos
e as nossas lavouras,
o rancho pequeno
onde é meu abrigo.
Vem ver de manhã
a fumaça branca
cobrindo o ranchinho
lá no pé da serra,
todas as belezas
que temos no campo,
não compramos nada
produz nessa terra.
Onde você mora
tem coisas bonitas
mas vem conhecer
nossas novidades,
um fim de semana
vou ter esperar
quando for embora
vou sentir saudades.
(do livro MINHA TERRA)
a
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Conheça a Dona Verônica -
Eu, Maria Verônica de Abreu Santos, nasci no dia 9 de abril de 1938, no povoado de Limas do Pará.…
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