Maria Verônica06/02/2015
Nesta terra onde nasci
Mudou tudo de repente,
Vão dividindo as fazendas
Destruindo as nascentes.
Eu vejo tudo de perto
Daqui nunca estive ausente
As lavouras estão secando,
Sem produzir a semente.
A terra trincou de seca
Onde havia água corrente.
Ribeirão que transbordava
Hoje tem poeira ardente
É tempo de muita chuva
Mas o sol está presente.
Vou pisando em terra bruta
Onde lutei contra enchente,
O povo inventando coisas
Muitos tipos diferente.
Quero ver é fazer chuva
E esfriar este sol quente.
Tem muitos querendo ser
Mais que Deus Onipotente,
Fabricando coisas feias
E a maldade vem na frente.
Eu vivo aqui no meu canto
Levo a vida simplesmente,
Recordo as grandes colheitas
Que faziam nossa gente.
Hoje ninguém enche as tuias
Como enchia antigamente.
Eu sei que os cientistas
Estão muito inteligentes
Fazem alguns medicamentos
Curando muitos doentes,
Os aparelhos sem fios
Onde falo com os parentes.
Queria é saber a vida
Que terei eternamente,
Isto só pertence a Deus
É segredo pra esta gente.
a
Maria Verônica31/01/2015
Eu escrevo porque gosto
Não foi ninguém que mandou,
Aprendi comigo mesmo
Ninguém nunca me ensinou.
O verso vem na cabeça
Escrevendo eu já vou,
Sinto no meu coração
Que muito famoso eu sou.
Tem até gente falando
Que eu quero aparecer,
Vocês estão enganados
Gosto mesmo é de escrever.
Não preciso vender letras
Eu vou já esclarecer,
Nasci de família pobre
Mas ganho bem pra viver.
Quando estou escrevendo
Vejo o mundo diferente,
Sinto até a presença
Dos amigos e dos parentes.
Se deixar tudo de lado
Posso até ficar doente,
Se não vencer a tristeza
A tristeza mata a gente.
Mesmo que falem de mim
Eu não lhes desejo mal,
Não ter fama em sua terra?
Isto é muito natural.
Dê valor pra você mesmo
E leve a vida normal,
Nem Jesus foi aplaudido
Em sua terra natal.
a
Maria Verônica15/01/2015
Estou notando que estou ficando muito aborrecida, implicando com tudo e com todos... Deve ser o mal da idade... Eu acho que sim...
Quando eu era jovem ou mesmo no meu tempo de menina, ajudei muitas e muitas vezes, minha mãe colher a semente de urucum. Preparava, socava no pilão, passava numa peneira bem fina, pra ficar bem fino aquele pó. Nós chamávamos aquilo de corante.
Quando acontecia de comprar macarrão, misturava-se um pouco do pó para ficar bonito, pois não havia dinheiro para a massa de tomate. A família toda comia e achava uma delícia. Eu sempre achava que só mudava a cor do macarrão. Não tinha nenhum sabor diferente. Se colocasse muita quantidade, dava fortes dores de intestino. O corante era puro, não tinha remédio como o comprado hoje.
Nunca gostei muito. Preferia o macarrão branco mesmo!
Não se colocava o pó em feijão, carne ou em outros alimentos como fazem hoje. Cruz credo! Hoje se coloca o pó até nas quitandas, nos salgadinhos, etc. Dizem que é para ficar bonito e saboroso.
Não sei... Deve ser mesmo a idade, pois não sinto sabor nenhum naquela coisa amarelinha! Prefiro branco, feio, mas gostoso! Por enquanto não encontrei o pó amarelo só no pão e em alguns biscoitos.
Vou até escrever o que me aconteceu um dia desses...
Cheguei no restaurante,
Peguei logo uma coxinha.
Quando dei uma mordida
Encontrei logo a coisinha.
Eu deixei ela de lado
Peguei então empadinha.
Parti ela ao meio
Estava muito coradinha.
“Vou comer um pão de queijo”!
Veio logo na ideia minha.
Foi feito com o tal corante
Sem um ovo de galinha.
Pensei: “Pastel é vento e batata
Não matava a fome que eu tinha”.
Resolvi pegar um pão
E ouvi uma voz baixinha:
“Quem come muito isto aí,
Depressa fica gordinha”.
Eu pensei comigo mesma:
“Posso até virar bolinha
Foi nele que encontrei
A cor pura da farinha”.
O que eu não quis, pus no lixo.
Não foi pra fazer gracinha...
É porque não gosto mesmo
Desta coisa amarelinha.
Este pó virou foi moda,
Igual roupa de mocinha.
Pra mim não é novidade,
Conheço desde novinha.
a
Maria Verônica30/11/2014
Andando pela cidade
Vejo as ruas enfeitadas
O povo achando bonito
Eu não vejo graça em nada.
Só não sai do meu sentido
Aquele ipê da estrada
Bem pertinho da porteira
Com flores amareladas.
Amigo vou te falar
Eu tenho a maior certeza
Quando deixei minha terra
Lá deixei toda beleza.
Até mesmo os passarinhos
Aqui cantam com tristeza
Trancados em uma grade
Distantes da natureza.
Eu deixei muitos amigos
E amigas de verdade
Não quis saber de namoro
Pra não sentir mais saudade.
Porque já tinha a certeza
Meu destino era a cidade
Pra fazer gosto aos meus pais
Hoje estou na faculdade.
Meu sonho é viver na roça
E cuidar da plantação,
Olhando as flores do ipê
Colorindo aquele chão.
Eu tenho grande esperança
Que me alegra o coração,
Pois depois que me formar
Voltarei pro meu sertão.
a
Maria Verônica09/09/2014
Querida vamos conversar,
As coisas não estão legais.
Meu coração está dividido
em duas partes iguais
Uma pertence a você
A outra está com meus pais.
Depois que arrumei trabalho
Na roça não voltei mais.
Que vale trabalhar tanto
Se não vivo sossegado
Eu perco noites de sono
Em meus pais tenho pensado.
Sei que o serviço do campo
É bastante complicado,
Papai tem como ajudante
Somente um encarregado.
Vou passar uns dias na roça
Quero ajudar no roçado
Vou colocar os bois novos,
Pra puxar carro e arado.
Os bois que já estão velhos
Vão ser muito bem cuidados
E se quiser lá faremos
Nossa festa de noivado.
Os meus pais me avisaram:
De lá não querem mudar.
Pediram que arrumasse alguém
Quando mamãe precisar.
Me deram tudo na vida
É minha vez de ajudar
Não deixarei meu trabalho
Mas deles quero cuidar.
a
Maria Verônica05/07/2014
Quando eu era pequena
aprendi bem a lição
e na minha juventude
escutei meu coração.
Amei quem eu não devia
e hoje vivo a sofrer,
aprendi tudo na vida
só não sei te esquecer.
Os mandamentos de Deus
mais importantes são dois:
eu penso em você primeiro,
em mim eu penso depois.
Seu amor era mentira
eu nunca desconfiava,
às vezes você sumia
nem sequer telefonava.
Não tem nada que explica
um amor tão grande assim,
gosto de você primeiro
pra depois gostar de mim.
Aos poucos você fugia
evitando me encontrar.
Então eu fui descobrindo,
tinha outro em meu lugar.
Amar a Deus mais que tudo
é o primeiro mandamento.
Aprendi desde criança
não esqueço um só momento.
O segundo é amar ao próximo
seguirei até o fim,
gosto mais de uma pessoa
muito mais do que de mim.
Primeiro a felicidade,
o pranto veio depois,
até hoje ainda choro
de saudade de nós dois.
a
Maria Verônica27/06/2014
Oi mulher, você tem que resumir!
Oi mulher, você tem que resumir!
Se for indo deste jeito
Sou capaz de desistir!
Nossa casa é tão pequena,
Você não quer arrumar.
Eu já pago faxineira,
Meu almoço é só no bar!
Gosta muito de barzinho
E só quer andar na moda.
Eu já faço hora extra,
Estou andando de roda.
Quando chego do trabalho,
Encontro a porta fechada.
O que eu vejo no quintal
É churrasco e cervejada.
Quando falei em casar,
Minha mãe me avisou:
Vai comer o pão
Que o diabo amassou.
Minha mãe quer ser avó.
Desistiu, já não quer nada!
Pois não quer saber de neto
Com nora desmiolada!
a
Maria Verônica10/06/2014
Peguei a minha bagagem
Pra roça eu quis voltar,
Uma casinha pequena
Eu sei que posso comprar.
Encontrei um velho amigo,
Veio logo me falar:
Veja o nosso povoado
Mudou tudo no lugar!
Também vou sair daqui
Quando a safra terminar.
Conseguiram destruir
O que era tão bonito!
Hoje a gente só escuta
É barulhada e grito!
Peguei a mala no chão
E voltei pra outro lado.
O lindo grupo escolar,
Também estava fechado.
Eu quis saber o porquê
E fui logo informado:
Todos os alunos daqui
Estão sendo transportados.
Vão estudar na cidade
Ou em outro povoado.
Nossa folia de reis
Que enfeitava o terreiro,
Com palhaços pulando
E pedindo algum dinheiro,
Já não moram mais ali,
Ninguém sabe o paradeiro.
Acabaram as serenatas
E os famosos violeiros,
Com sanfona e violão,
Cavaquinho e pandeiro.
Já não tem coroação,
Faz tempo que tudo parou.
Vai pouca gente à igreja
Alguém de lá me contou.
Voltei triste pro barraco
Recordando o que passou.
Portão grande e muro alto,
Vivendo com Deus estou.
Na minha roça querida
O mundo já se acabou!
Conseguiram destruir
O que era tão bonito!
Hoje a gente só escuta
É barulhada e grito!
a
Maria Verônica03/06/2014
Como você se transformou
Depois que te conheci.
Dava-me tanto carinho
Que até te falei assim:
Meus pais me fez pra você
E teus pais te fez pra mim.
De repente mudou tudo
Estamos quase no fim.
De manhã, quando levanto,
Você já se maquiou,
Apressada, nem me beija,
Seu telefone tocou.
Todo dia é assim,
Muito cansado eu estou,
Quando chego na cozinha
Nem o café preparou.
Chega em casa embriagada,
Lutando pra não cair.
Passa a noite, vem o dia,
De novo torna fugir.
Eu troquei a fechadura
Pra não entrar, nem sair.
Por onde passar o dia,
Peça um canto pra dormir.
Eu fechando meu barraco,
Só abro quando vier.
Meu serviço não tem hora,
Eu volto quando puder.
Não pense que vou chorar,
Porque você não me quer.
Só enquanto chego em casa,
Vem enchente de mulher!
a
Maria Verônica01/06/2014
Ainda não resolvi,
Primeiro quero pensar...
Se devo viver sozinho
Ou se devo te buscar.
Você tem seus compromissos,
Eu vivo aqui sem ninguém,
Se um dia se arrepender
Virá contra mim também.
Falou que é mal amada
E comigo quer morar.
Mas só quando está jogada
É que vem me procurar.
Vou pensar tudo primeiro
Nada se resolve assim.
Eu posso me apaixonar
E você fugir de mim.
Já levei tantas patadas,
Por este mundo vagando.
Eu já conheço de perto
A vida que estás levando.
Melhor é viver sozinho
Do que de novo arriscar.
Já fui um homem perdido
Lutei para me encontrar.
a
-
Conheça a Dona Verônica -
Eu, Maria Verônica de Abreu Santos, nasci no dia 9 de abril de 1938, no povoado de Limas do Pará.…
Continuar lendo